Ontem o papai e eu brigamos e foi bem feio. Foi muito rápido, mas muito feio.
Ele estava brincando com a Alaska de uma brincadeira que a mamãe não gosta, uma brincadeira em que ela morde e, antes de eu entrar no banho, ela mordeu ele forte. Deve ter doído muito porque eu ouvi ele exclamar “ai!” e em seguida ouvi o som inconfundível do tapa. E um chorinho fraco dela.
Me enrolei da toalha imediatamente e, antes mesmo de abrir a porta, eu gritei: “ah, mano! NÃO ACREDITO!!!”. Abri a porta sentindo a fúria dentro de mim e, nesse momento, ele tinha acabado de levantar do chão onde ela também estava até pouco tempo. Eu disse num tom de voz muito alto: “de novo isso?!” porque há pouco tempo atrás uma cena semelhante havia acontecido. Sabe, bebê, isso me deixa muito triste. Não concordo em tapinhas na bunda pra disciplinar, seja em humano ou não qualquer animal. Isso deixou a mamãe muito brava. Tão brava que não prestei atenção quando ele disse: “desculpa, amor. Eu não bati forte.” Eu só conseguia gritar que não importava, que eu pedi pra não brincar daquele jeito, que as coisas não acabavam bem. A Alaska morde de brincadeira, mas às vezes ela não sabe controlar a força que tem e machuca. E não é culpa dela. Ele me disse que não machucou ela e eu só conseguia gritar que não importava e que eu não queria mais aquilo e que essa tinha sido a última vez.
Ele ficou sentado no sofá e só concordou com a cabeça. Eu entrei no banho e chorei muito, muito mesmo. Estava com muita raiva dele. Me desculpa, bebê, porque sei que não é bom pra você quando a mamãe sente raiva assim, mas foi inevitável :(
Eu chorei muito, de raiva e de tristeza. Me senti imensamente triste porque eu odeio brigar com o papai. Eu sei que você vai amá-lo tanto quanto eu amo porque ele é uma das melhores pessoas que existem nesse mundo! E estávamos tendo um dia muito bom de férias na nossa casinha. Um pouco antes de isso acontecer, ele havia saído pra comprar picolé pra gente porque tem feito muito calor esses dias. Além de picolé ele trouxe também várias outras coisas que sabe que a mamãe gosta, mesmo sem eu precisar pedir, e comemos juntos assistindo The Office e rindo. Eu fui pro banho e íamos jantar e ver um filme depois. Até que isso aconteceu.
Mais cedo, nesse mesmo dia, a mamãe estava no quarto lendo e ele apareceu na porta pra falar sobre uma vaga de emprego muito boa pra qual ele tinha se candidatado. Eu achei muito bonitinho o jeito de ele vir me contar. Depois de ler, fiquei um tempo deitada no travesseiro dele, sentindo o cheiro e pensando no quanto eu o amo! Então foi muito triste o desfecho que esse dia teve.
Quando eu terminei o banho, eu tinha conseguido me acalmar um pouco e parado de chorar, mas eu ainda estava muito brava com ele. Fui para o quarto e deitei me sentindo muito triste porque ele havia feito aquilo e eu havia gritado com ele.
Fiquei muito tempo deitada pensando. E nesse tempo ele ficou jogando Tetris no videogame (sim, esse é um jogo que ele joga muito e é muito bom, aliás). Esperei que ele viesse se desculpar comigo, mas ele não veio.
Já havíamos perdido a nossa noite e já não daria mais pra jantar e ver filme nenhum porque estava tudo arruinado. Quando percebi que ele não se desculparia, levantei e arrumei as coisas da Alaska pra gente poder dormir. Passei por ele na sala e não falamos nem uma palavra, e eu deitei muito triste e provavelmente voltei a chorar.
Tentei me distrair com alguma bobagem no celular, com o livro, tentei pensar... pensei se deveria ir até lá me desculpar com ele, mas não senti isso no meu coração. Tentei dormir. Não consegui, levantei de novo e ele não tentou conversar. Voltei para o quarto. Foi muito ruim porque eu queria dormir pra que aquilo acabasse logo, mas ao contrário das outras pessoas, não consigo dormir quando estou triste. Então decidi esperar ele vir deitar, mas ele não veio. Já era de madrugada.
Fui até a sala e ele estava deitado no sofá. Chamei ele e tentamos conversar. Queria falar o quanto estava triste porque não consigo me sentir bem quando estamos brigados, mas não consegui. Estávamos muito cansados, acho que aquele horário seria quase impossível ter uma discussão razoável, mas eu pedi pra ele ir pro quarto e ele veio. Pedi desculpas. Ele pediu desculpas. E mesmo assim não consegui dormir.
Somente hoje de manhã conseguimos nos acertar finalmente. Eu chorei. Tentei disfarçar, mas talvez ele tenha percebido. Não sei dizer se ele chorou também. Mas pelo menos conseguimos iniciar o dia como iniciamos todos os dias: nos abraçamos e conversamos sobre a noite de sono que tivemos, eu contei meu sonho (normalmente ele não se lembra) e a gente disse que se ama. A gente riu um pouquinho. E fomos tomar uma espécie de brunch porque já era quase hora do almoço.
Agora já é quase final de tarde e eu queria só escrever pra você saber que eu fico muito feliz por esse momento de esperar a sua chegada e de ter o papai todos os dias pra dividir esse momento comigo. Queria que você soubesse também que somos pessoas que não gostam de se magoar e que sabem pedir desculpas. Não é uma tarefa fácil, mas estamos melhorando e espero que a gente saiba ensinar isso pra você, porque é muito importante.
Já faz um tempo que eu quero escrever sobre o papai e sobre as coisas que eu amo sobre ele. São muitas coisas. Em breve você vai conhecer também, mas eu quero escrever pra poder ler isso de novo daqui alguns anos. Vai ser legal, não vai?
Mas fica pra outro dia porque hoje eu já escrevi demais. Tudo bem?
Já fico ansiosa porque daqui 4 dias vamos te ver no ultrassom e você é tão lindo! :)
Amamos você!
Beijos,
Mamãe.
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